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Foto do escritormarianavilelajorna

Um olhar político e poético para a arte do Mato Grosso na Pinacoteca de São Paulo

Exposição Como é bom viver no Mato Grosso, do artista Gervane de Paula, vai até 1 setembro na Pinacoteca de São Paulo


Cuiabano de raiz, da cidade do Araés, Gervane de Paula é um artista que produz por diferentes linguagens: pintura, escultura e instalações, e está com sua arte exposta na Pinacoteca de São Paulo desde o dia 24 de março, na Exposição Como é bom viver no Mato Grosso, em homenagem aos seus 40 anos de carreira. A mostra vai até o dia 1 de setembro.


Trata-se da sua primeira exposição individual na cidade de São Paulo. Mas a carreira do artista é de longa data. Começou aos 17 anos pintando e criando e já vendia a sua obra na capital mato-grossense, a princípio, com paisagens da cidade e o entorno do seu bairro de Araés. No  período, em 1978, seu bairro ainda estava emoldurado por uma vegetação verde e recortado por córregos que desaguam no Rio Cuiabá, região que hoje já se tornou próxima ao centro.


Também aparecem nas suas criações alguns aspectos da cultura popular e as festas religiosas. “Cuiabá é uma cidade bastante religiosa e até hoje tem seus devotos: São Benedito, São João... Minha própria família era devota de santos juninos e julinos. Eu sou devoto de São Benedito, que é um santo negro, o santo que me acompanha e me inspirou em várias obras”.



Ele conta que sua arte retrata as ricas expressões da cultura popular do Mato Grosso – a viola de coxo, o artesanato de bairro, a tecelagem, o movimento do corpo; a culinária relacionada à pesca. “Cuiabá é rica nas expressões da cultura popular, e são as pessoas dessa origem que mantem isso vivo”.


A respeito de sua trajetória, Gervane comenta dos desafios de fazer arte foras dos grandes centros culturais. Mas, para ele, viver na cidade de Cuiabá foi e é uma escolha. “Sou um artista que assumi a minha região, vivi trabalhando aqui no centro-oeste, Mato Grosso e Goiânia. Como todas as cidades periféricas, não é uma boa praça para artistas. O mercado é bastante fraco, praticamente não existe”.


Mas, por outro lado, ele diz que exatamente por viverem afastados dos grandes centros, se consegue fazer a diferença nessa ponte aérea. “Acho que os artistas aqui, por viverem isolados, são forçados a criar obras que realmente tenham o sotaque da região, mostrando que sim, é possível fazer arte distante, fora do eixo Rio-SP”, afirmou ele, dizendo sentir falta de artes que transitem na região do centro-oeste.






Olhar crítico para o meio-ambiente

Pouco a pouco, Gervane também se tornou atendo às problemáticas ambientais da sua região.

“Embora eu seja um artista da região, onde a gente tem o privilégio de viver na floresta e no Cerrado e Pantanal, eu não faço papel de agente de turismo. Eu sempre faço um papel de tirar também o público da sua passividade, convocando-o para reflexão”, diz Gervane.

Esta característica foi sendo desenvolvida ao perceber o seu papel enquanto artista, e se deparar com variadas questões e conflitos: da inserção do agronegócio, do preconceito, da dificuldade da cidade em viver com o novo, da presença da droga, já que Cuiabá é uma fronteira bastante crítica neste sentido. “Como o tempo isso passou a interferir na minha obra.

Não é eu que busco, eu sou contaminado e começo a trabalhar também esses assuntos no meu trabalho, pois a violência muito forte. Você não tem como ficar fora como artista de todos esses acontecimentos”.

Devido a sua ousadia e característica artística, Gervane teve alguns problemas na sua cidade. Muitas vezes as obras são retiradas porque alguma organização pediu. “Isso se deve porque é uma cidade que ainda é muito carente. Em Campo Grande (MS), ainda existe o Museu de Arte Contemporânea, mas Cuiabá não existe um museu de arte”.


A ameaça ambiental também provoca nele uma grande preocupação. A própria cidade já sofre esta consequência dessa invasão do cerrado, e a gente percebe que a cidade esquentou muito mais nos últimos tempos, e os estudiosos atribuem a essa entrada agressiva ao cerrado. Os córregos que cortavam a cidade, eles já não existem mais. Quando a gente viaja de Cuiabá a para Rondonópolis, a gente vê esta vasta plantação de soja. É muito importante pra economia, mas de que adianta, né?




Artista Gervane de Paula atua desde os 17 anos



Serviço

Como é bom viver no Mato Grosso

Local: Pinacoteca Luz (2º andar)Data: de 23 de março de 2024 até 1 de setembro de 2024Endereço: Praça da Luz, 2, São Paulo — SP.Horário de funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 18h. Quintas-feiras com horário estendido B3 na Pina Luz, das 10h às 20h (gratuito a partir das 18h).

A exposição tem curadoria de Thierry Freitas.

 

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